Texto de Koji Matsumoto
Quando Masaru Nasu desembarcou no Porto de Santos em 8 de julho de 1.953, trazido pelos seus pais, vindo de Tanabe – província de Wakayama, no navio holandês “Ruys”, contava com 11 anos.
Ele fez parte do primeiro grupo de imigrantes da Colonização Matsubara, localizada próximo à cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, e viveu por longos anos nesse lugar até a sua morte que ocorreu em julho de 2.010 com 68 anos.
No passado, foi uma região próspera no cultivo do café. Numa época em que a doença era fácil de contrair, contudo ele permaneceu durante 5 anos consecutivos sem sair da roça tendo em mente apenas o cultivo do café. Após 5 anos quando ele esteve em Fátima do Sul (um povoado distante 30 quilômetros da Colonização Matsubara) ficou pasmado com o vertiginoso crescimento daquela cidade que florescia naquela época.
Porém, no ano de 1.975, com a grande geada que assolou aquela terra, muitos moradores deixaram aquele local a procura de lugares melhores. Para sorte do Nasu, a natureza poupou o seu cafezal devido ao fato de a topografia do terreno estar inclinada para leste, o que fez evitar a incidência direta da geada. Por ocasião da chegada ao local, os imigrantes fizeram a escolha do seu lote através de sorteio. Como não tinham nenhuma noção da influência da topografia nas geadas, ninguém questionou aceitando cada qual o lote sorteado. Assim, a família Nasu tinha em 1.975, plantação de 60 hectares de café em dois lotes totalizando 20.000 pés de café, uma quantidade considerável na época.
O que mais atormentou o Sr. Masaru foi de frequentar a escola brasileira. Sem entender uma palavra durante as aulas, permanecia literalmente calado. Mas, teve também uma reação adversa que era “temos que ensinar a língua japonesa mesmo que seja de qualquer custo para os nossos filhos”. Assim dizendo, e juntando forças com a sua esposa Chigusa (hoje, com 75 anos), nas brechas dos seus afazeres da lavoura decidiram ensinar japonês, quer em sua casa, quer no kaikan da comunidade. Chigusa, que era amiga de infância do Masaru, colaborou com muita dedicação nessa empreitada, começando a ensinar aos seus filhos, depois para os filhos das vizinhanças e nos tempos áureos chegou a ter até 30 alunos e essa empreitada cessou em 2.001. E Masaru dizia enfaticamente que se as crianças nascidas no Brasil que são nisseis compreendessem a intenção dos seus pais em legar para eles o conhecimento da língua japonesa lembrando “do que seus pais diziam naquela época”, isso já seria suficiente. No tempo em que a comunidade produzia café, apesar do rigor do trabalho árduo, havia atividades recreativas como beisebol, torneio de májan e atividades dos jovens. No tempo em que o Masaru era vivo era “vidrado” por pesca, torneio de májan e beisebol cujas atividades ele nunca deixou de participar; como Masaru era o esteio da família, Chigusa nunca o contrariou nessas três atividades lúdicas.
Atualmente, a colônia Matsubara, além da família Nasu e famílias que chegaram posteriormente vinda de Marília – SP, compõem-se de 3 famílias num espaço enorme onde outrora havia sede de Associação, escola japonesa e casas, nada mais existe além do espaço cultivado por falta de condições e mesmo porque não há mais sentido.
A sede da Associação (kaikan) que existia no local, tornou-se completamente obsoleta em 2.010 e acabou tombando e o terreno que sobrou foi doado para a Associação Produtora de Leite da região e o único vestígio que ainda resta no local é a placa comemorativa de inauguração daquele kaikan. Na época em que a colonização estava no seu auge, numa das comemorações de sua fundação, até o Governador de Mato Grosso, João Ponce, compareceu na festa. E houve época em que a Colônia Matsubara foi denominada de Colônia João Ponce e em 1.958 foi realizada uma grande festa no kaikan com apresentação de teatro amador pelos moradores e que deixou gravado em nossas memórias. E prosseguindo com a vida até os dias de hoje, a Sra. Chigusa que é viúva, deixou a plantação de café e hoje planta milho e soja numa área de 90 hectares junto com o seu filho Kazuo, de 45 anos, residente em Fátima do Sul.
Masaru faleceu num desastre automobilístico em julho de 2.010. Porém, antes e depois de sua morte ocorreu alguns fatos que merecem ser relatados: em maio de 2.009 Masaru convidou Chigusa para irem juntos até Marília, S.P. onde aconteceu o campeonato de beisebol, sendo que essa foi a última vez que viajaram juntos. Estranho é que ele sempre ia sozinho aos campeonatos de beisebol e nunca a convidava. Depois da sua morte foi constatado que todas as obrigações com os Bancos estavam em ordem e não havia dívida alguma para ser quitada. Além disso, o que mais impressionou a Chigusa foi que no dia do funeral do Masaru compareceram além dos japoneses conhecidos, a população de Fátima do Sul e Vicentina, além de muitas coroas de flores enviadas pelos amigos, inclusive pelos prefeitos das duas cidades, numa clara demonstração de quanto ele era respeitado pela população. E a Chigusa arremata: “ – apesar de ser um homem teimoso, tinha um bom coração e quando estava determinado a fazer algo em benefício do próximo dedicava com muito afinco, talvez seja isso que tenha movido o sentimento dos brasileiros”. Em 2.003 quando essa entrevista foi feita junto ao Sr. Masaru, ele disse: “ – quando dei conta de mim percebi que os outros se foram e eu permaneci aqui. As pessoas que saíram daqui podem ter outras opiniões, porém eu afirmo que aqui foi um lugar abençoado para mim.” Essas foram as palavras deixadas pelo Sr. Masaru Nasu para este que o entrevistou.
Koji Matsumoto (residente no Brasil há 25 anos)
Apesar de estar registrado que o Sr. Masaru Nasu morreu num desastre automobilístico, na verdade ele morreu em consequência de uma queda quando subia numa escada e no hospital contraiu infecção hospitalar que trouxe outras complicações.